Relação Médico-Paciente

Médico, eu poderia abordar vários temas sobre doenças, sintomas etc., que acompanho e que tanto angustiam e trazem o paciente até o consultório, todavia, prefiro analisar um aspecto mais amplo da Medicina, muito discutido em foros médicos e não médicos, que é a relação entre o médico e seu paciente.

Esta relação sempre muito difícil e complexa vem se tornando cada vez mais conflitante por inúmeros fatores: a medicina evoluiu tecnologicamente de forma exponencial nos instrumentos de investigação de doenças, permitindo ao médico métodos diagnósticos que há menos de 20 anos não seriam possíveis; a sociedade cresceu demográfica e tecnologicamente, com muito mais informações sobre o mundo e sobre si mesma, devido à globalização dos conhecimentos fornecidos pelos atuais meios de comunicação, como o Dr. Google, Instagram, Facebook, etc., além da mudança de comportamentos e multiplicidade de costumes com culturas diversas interagindo no mesmo espaço social e político.

Assim, a sociedade e especificamente o paciente acompanham o “saber da máquina”, com múltiplas informações, chegando ao médico, já orientado a pedir o exame X ou Y e este a referendá-los, aplacando de um lado a angústia de uma proteção robotizada e do outro permitindo a apatia rotineira de mais uma consulta feita.

Crescemos em tecnologia de ambos os lados da receita médica. Crescemos como indivíduos? Ao término da consulta o diagnóstico está correto? Saímos dela satisfeitos médico e paciente?

Médico e paciente estão perdendo a capacidade de se envolver na relação da consulta. Cabe a nós, médicos, mudar a faceta deste prisma pelo qual a relação está sendo vista. Perdeu-se a conversa, o “como vai?”, o exame clínico, o conhecer do ambiente que envolve o paciente.

Consultas rápidas, muitas vezes decorrentes das dificuldades existentes atuais da profissão médica enxovalhada por preços vis de convênios médicos, com cargas horárias estafantes, jornadas fatigantes são fatores que desagregam a relação, impedindo mais que um diagnóstico correto, uma terapêutica efetiva, onde por várias vezes a palavra do médico confortando ainda é o melhor elixir de recuperação.

Atualmente, não há o falar, o escutar, o olhar. Como primeira opção tanto nossa como do paciente: exame complementar, de preferência o mais sofisticado.

Claude Bernard, eminente médico e fisiologista francês do século XIX, falava: “Quem não sabe o que procura, não entende o que encontra”.

Assim, não basta pedirmos exames e nem sempre há esta necessidade, precisamos voltar a ouvir e o paciente voltar a contar sua história.

Eu procuro entender esta relação como a um mirar através dos olhos do meu paciente que se fixam em minha face, vendo-o através da dor que o trouxe para mim, na ânsia consciente de seu alívio e no desejo inconsciente de ter nossa mão sempre aberta para o apoio ao seu sofrimento do corpo ou da alma.

Fecho este texto com um pensamento de Bernardino Ramazzini, pai da Medicina do Trabalho (século XVII), que reproduz o que há de profundo na arte médica da consulta em minha opinião:

“O médico que atende a um paciente, não deve ter tanta pressa que se limite apenas a tomar seu pulso (até mesmo sem mandá-lo deitar-se) e não deve deliberar em pé sobre o que convém fazer”. Deve interrogar o paciente com o rosto amável e examinando-o com o máximo cuidado procurar saber do que ele se queixa, dando-lhe a medicação ou a simples atenção que ele merece.

 

Dr. Jaime Goldzveig Reumatologista/ Escola Paulista de Medicina (UNIFESP)
CRMSP: 31.193

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